quinta-feira, 5 de março de 2015

Sobre o topónimo "Avelã"

O significado dos nomes dos sítios que geralmente se faz deve ser repensado, compreendendo que na maior parte dos casos esses nomes são de grande antiguidade e as palavras que lhes deram origem já se não usam nos nossos dias. Por isso a semelhança entre os nomes dos sítios e palavras atuais da nossa língua é quase sempre enganadora. O exemplo que vou dar, ainda que simples, ou por isso mesmo, ajuda a perceber a situação. 

É bom de ver que o topónimo "Avelã" não tem qualquer relação com árvores ou arbustos fruteiros. De facto o topónimo “Avelã” ou as suas variantes – “Avelão”, “Avelãs”, “Abelã” – deve ter nascido da existência de um poço, que em fenício se diz “Ab” ou “Av” junto do qual se parava em viajem para descansar ou pernoitar – em fenício “ln”. Assim, de “Av lan” ou “Ab lan” se formou o topónimo “Avelã” e suas variantes com o significado genérico de “paragem do poço” ou “dormida do poço”. Deve portanto tratar-se de locais por onde passavam antigos caminhos com alguma importância. Não é por acaso que existe o topónimo “Avelãs de Caminho”, nem como o “Castro de Avelãs” e o “Castelo de Avelãs”.



Fl. 197 da Carta Militar de Portugal na escala 1:25000, 

Esta situação, em que um topónimo parece significar algo em português atual, mas a sua origem e significado são completamente diferentes, repete-se constantemente: "Malavado" não significa "sujo", mas antes "poço de água que transborda" (ml av ad); "Asneira" não é sinónimo de "disparate" nem de "terra de asnos", mas antes de "rio do Norte" (de “hṣn” significa “do norte”, e “nhr” que significa "rio"); “Fome Aguda”, “Famaguda” ou mesmo “Formaguda” são variantes de um original “fØm aḥd” [fâm agd] que significa apenas “caminho único”, e nada têm que ver com "fome", "fama", ou "forma"; "Cabrassada" não quer dizer que alguém tenha comido uma cabra assada... significa simplesmente "encosta das sepulturas"...
As interpretações tradicionais da toponímia, bem vistas as coisas, parecem jogos de palavras infantis, que em pleno século XXI são positivamente incompreensíveis e inadmissíveis. Impõe-se por isso um trabalho sistemático e profundo da toponímia portuguesa, trabalho esse que nos poderá vir a proporcionar um novo e melhorado olhar sobre o espaço e sobre o seu passado.

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